Veja se você se reconhece nessa situação: toda vez que fica um pouco mais ansiosa para algum evento no trabalho, passa nervoso no trânsito ou brigada com alguém da família começa a comer tudo o que vê pela frente. Ou então percebe que já estava satisfeita há tempos, mas não para de repetir o prato até ver a panela vazia. Sim, esses podem ser sintomas de compulsão alimentar, ainda mais se vierem seguidos de uma sensação de culpa.
É preciso então prestar atenção na frequência com que as cenas descritas andam ocorrendo na sua vida. Acontecem várias vezes na semana? Chegam a atrapalhar sua rotina ou o objetivo de emagrecer? Talvez seja a hora de procurar ajuda profissional. “O comer compulsivo muitas vezes aparece quando não conseguimos lidar com emoções mais intensas que nos acometem”, afirma o psicólogo Felipe Augusto de Lima Souza, do Ambulatório de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. O tema foi assunto de sua palestra proferida na última quarta-feira (08/05) no Centro Terapêutico Máximo Ravenna, em São Paulo.
Ele explica que o problema pode vir da infância e a partir da dificuldade que algumas pessoas têm com a chamada regulação emocional. “A criança aprende, desde cedo, a autorregular as emoções extremas. Um episódio de raiva, por exemplo, pode ser atenuado com uma demonstração de carinho por parte do adulto ou por uma bronca”, diz o psicólogo. Outra coisa comum que os pais fazem é apresentar a comida como recompensa caso a criança reprima o que está sentindo. Afinal, quem nunca ouviu da mãe “se você parar de fazer birra, vai ganhar um docinho“?
E é aí que mora o perigo. Usar a comida como válvula de escape para as emoções (seja tristeza, alegria, raiva, angústia) pode acompanhar o indivíduo até sua fase adulta. “Já foi comprovado cientificamente que preferimos alguns tipos de alimentos em certas situações. Em um episódio de raiva, procuramos comidas crocantes, para aliviar o sentimento com o movimento mecânico de trituração. Já quando estamos tristes, procuramos coisas mais palatáveis, que fiquem mais tempo na boca e derretam com o calor da língua, como o chocolate“, diz Felipe.
E apesar de parecer que o problema foi resolvido a curto prazo, o hábito apenas traz um alívio imediato e mascara algo que precisa ser trabalhado. Para entender melhor como funciona o comer compulsivo dentro da nossa mente, Felipe explica:
Ciclo da compulsão alimentar
- Um evento, chamado de gatilho emocional, acontece. Pode ser uma briga com a amiga, um problema com os filhos, desentendimentos no trabalho…
- Começa uma resposta emocional intensa. Você fica muito triste, sente muita raiva, ou muito medo…
- O cérebro entende que precisa neutralizar esse sentimento a tudo custo e da forma mais rápida possível.
- Você recorre à comida, muitas vezes sem nem estar com fome, e nem percebe que comeu mais do que o necessário para te satisfazer.
- Apesar do alívio inicial, o comportamento pode gerar o sentimento de culpa, que provavelmente fará você comer ainda mais. Ou então mascarar a emoção intensa, o que pode fazer com que ela volte com tudo quando você menos esperar.
Como lidar com a situação
Se você se identificou com o ciclo, talvez seja a hora de recorrer a um especialista. Somente ele poderá ajudar a entender por que isso ocorre e qual a melhor forma de resolver. Felipe dividiu com a gente um dos métodos mais recorridos pela ciência para tratar o problema. Mas lembre-se que seu psicólogo é a pessoa mais indicada para te auxiliar no processo, tá?
1º passo: aceitação do estado emocional
“Emoção é uma coisa biológica — todos nós sentimos e precisamos disso. O correto, então, é não fugir de imediato dela: sinta, sofra, chore…”
2º passo: cheque os fatos
“Agora, pare e pense sobre o que aconteceu para você estar assim. Tente não assumir uma posição julgadora.” Talvez o ocorrido possa ser contornado.
3º passo: aja de modo contrário ao que você quer fazer
Lembre-se de que toda ação tem uma consequência. “Preste atenção no que você está inclinada a fazer no momento”. Isso vai te prejudicar ou prejudicar os outros? Então, faça o contrário.
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